quarta-feira, 2 de março de 2011



BRILHARETES (Lustrini) de Antonio Tarantino Tradução Tereza Bento Com João de Brito e Tiago Nogueira Cenário e Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos Assistência Joana Barros Apoio à produção João Meireles Um espectáculo de João de Brito e Tiago Nogueira com a colaboração de Jorge Silva Melo Co-produção Artistas Unidos/ LAMA/ Molloy Associação Cultural

Estreia no Centro Cultural do Cartaxo a 25 de Março de 2011

Ensaios abertos ao público:
Faro (CAPA), 11 e 12 de Fevereiro de 2011
Loulé (Casa da Cultura), 18 e 19 de Fevereiro de 2011
Setúbal (Teatro Estúdio FonteNova) 24 e 25 de Fevereiro de 2011
Montemor-o-Novo (Cine -Teatro Curvo Semedo), 26 de Fevereiro de 2011
Tavira (Teatro Al Masrah / Espaço da Corredoura), 4 e 5 de Março de 2011
Sintra (Teatro Reflexo), 11 e 12 de Março de 2011
Alcobaça (Armazém das Artes), 18 e 19 de Março de 2011

O texto está editado nos Livrinhos de Teatro (nº22)

Mas sabes tudo o quê? as palavras quem tem sou eu, o que é que tu pensas, que a mim me faltam as palavras? eu a esse gajo vou-lhe dar a volta com palavras, vou gozá-lo que é um mimo, vai ser uma brincadeira: vou envolvê-lo de conversas vais ver: que eu não estou acabado, tu é que não tens um pingo de confiança em mim e achas que já estou como hei-de ir.
Antonio Tarantino, Brilharetes

Antonio Tarantino sobre Brilharetes
Uma noite fui comprar cigarros à estação dos comboios, era bastante tarde e vi um homem a olhar fixamente para mim. Lembrava-me daquele homem, lembrava-me de o ter conhecido trinta anos antes. Ele olhava para mim com olhos de pessoa que dorme ao relento, que precisa de ajuda, e naquele momento fez-me um gesto. Queria um cigarro. Eu dei-lho e olhei para ele e perguntei: “És o Brilharetes, não és?”. E ele assentiu. Dei-lhe o cigarro, levei-o para um café e dei-lhe algum dinheiro.
Lembrei-me da história daquele homem a quem, naquela altura, todos chamavam “o poeta”. Era uma pessoa culta, uma pessoa culta que de repente… Lembro-me que, nos anos 50, me recomendou a leitura de Vadios, de Pasolini. Dirigia a biblioteca do círculo comunista Garibaldi de Turim. Depois, de repente, desapareceu de circulação. Era um homem que aparentemente podia ter sido alguém na vida.
Em suma, lembrei-me de todo um mundo que já não existe. Assim, juntando pedaços de várias vidas, cada uma diferente, consegui escrever Brilharetes.
Aprendi que os estímulos para escrever podem surgir de uma circunstância qualquer, mesmo de uma frase, de uma palavra, mas só se essa frase ou palavra se puderem ligar a outras coisas que aconteceram antes. Não é que essa palavra determine toda a peça, mas se há precedentes, se há um passado, essa palavra pode ser o pretexto que faz todo o teu dicionário vir ao de cima, todas as tuas experiências, todas as tuas coisas, as coisas que guardas em ti mesmo.

Outra coisa importante, mais importante do que o incipit, é a iminência. Tem de haver uma iminência qualquer para fazer o teatro, qualquer coisa que tem de acontecer e tem de acontecer necessariamente

Sem comentários: