sábado, 7 de agosto de 2010

Gostei destas palavras do Bruno Bravo:

OLHE QUE NÃO PACHECO, OLHE QUE NÃO, por Bruno Bravo

Foi com tristeza e repugnância que li o artigo que o Pacheco Pereira escreveu para a revista Sábado sobre os artistas (entre aspas) e o submundo onde se movem.

Para o Pacheco Pereira basta dizer que se é artista para se ter de imediato direito a um subsídio que depois será gasto em sabe-se lá o quê, num mundo sombrio e refundido, ao qual o comum dos portugueses (quem é esse?) não tem acesso. Testemunhado apenas por portugueses incomuns que serão, talvez, os estropiados. Para o Pacheco Pereira o teatro é o da Comuna, o da Cornucópia e o dos Artistas Unidos. Todos os outros são apenas nomes. Nomes que nalguns casos para o Pacheco Pereira são coisas. Nomes que vivem à custa do dinheiro dos contribuintes. Por trás desses nomes estão também contribuintes, sabia? A maior parte deles a contribuírem mais do que podem e sem regalias sociais como as do comum português (quem será esse?). Se o Pacheco Pereira se tivesse dado ao trabalho de investigar um pouco as outras companhias (mas isso naturalmente não interessava para o seu artigo) tinha percebido que quem conhece os Artistas Unidos, o Teatro da Comuna e o Teatro da Cornucópia, conhece também as outras companhias. E que muitos dos que trabalham nas outras companhias vieram das únicas três companhias de teatro em Portugal que o Pacheco Pereira parece conhecer. E que a maior parte desses grupos, que tão levianamente enumera, têm tido, ao longo das últimas décadas, muito mais público do que o Pacheco Pereira pretende crer. E prémios, e reconhecimento Nacional e Internacional. São eles, mais as três companhias de teatro que o Pacheco Pereira conhece, o Teatro em Portugal. O seu artigo deveria começar exactamente assim – Para Acabar de Vez com o Teatro em Portugal. Ao menos não passaria por ignorante aos olhos dos estropiados. E olhe que são muitos os portugueses incomuns, estou em crer que até são muitos mais do que os comuns (mas quem serão esses?). Ao menos dava-lhe um certo charme. Mas eu desconfio dessa ignorância, sabe? Acho mesmo que é um disfarce. Um truque sujo a ver se pega. A tentar convencer o português comum que, cá para mim, deve ser o povo de outros tempos que se quer entretido a ver folclore para não se agitar muito. O pior é que, de facto, a nossa natureza não é agitada e o Pacheco Pereira sabe isso muito bem. Como também sabe que ninguém venceu a Ministra – que recuou no corte de 10% sobre verbas de contratos assinados pelo Ministério da Cultura – porque a Ministra (que confunde dependentes com independentes) apenas estava a apalpar terreno, a medir forças com um meio que, ao contrário do que o Pacheco Pereira sugere no seu artigo, é infelizmente muito desunido no que concerne aos seus direitos mais básicos e só se junta em situações limite. Assim tem sido, pelo menos na última década. E sabe qual é o mal disto tudo? (se calhar aqui até estamos de acordo) são os malditos subsídios, que não subsídios nenhuns, mas sim concursos públicos que funcionam mal e que se traduzem unicamente em dinheiro que nem numa bica afectam na contribuição do povo (chamemos-lhe assim apenas para usar o seu léxico) e que na realidade, depois, subsidiam o preço do bilhete. Se o subsídio (infeliz nome para um concurso público) fosse mais estruturante – apoio à divulgação, cedência de espaços para ensaios e espectáculos, material, apoio a itinerâncias nacionais e internacionais, etc, se

calhar já não falávamos de subsídios. Mas isso dá muito trabalho e é um incentivo à autonomia. E isso não é bom porque assim o português comum desaparecia e o país ficava cheio de portugueses incomuns.
Tantos artistas que nós temos! Diz o Pacheco Pereira. Compreendo que lhe faça confusão tanta diversidade, mas olhe, no teatro não são assim tantos e pode crer (sabe isso muito bem) que artistas por cá, de facto há muitos, mas estão noutros sítios.
Sabe uma coisa, Pacheco Pereira, artigos como o seu enchem-me de optimismo.

Bruno Bravo

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